Da Redação
Cada hora que um paciente em estado crítico permanece fora da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), reduz em 10% a chance de sobrevivência, segundo o médico intensivista, Douglas Saldanha Pereira, 47, chefe da UTI adulto do Hospital e Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá (HPSMC).
A maioria das vítimas é de acidentes de carro ou de disparos de arma de fogo, como é o caso Piter Fernando Vieira, 17, que perdeu os dois rins perfurados por tiros na segunda (29). Apesar da gravidade, ele esperou 36 horas por um leito na UTI no Pronto-Socorro de Várzea Grande e só conseguiu por força de uma liminar judicial.
Piter foi baleado quando voltava de um jogo de futebol, por dois homens numa moto, no Jardim Esmeralda, na cidade vizinha à Capital. "Foi um descaso muito grande. Fazem isso porque não é um parente deles. Pra quem não conhece a lei fica mais difícil ainda. Tentamos em todos os hospitais particulares de Cuiabá e não achamos vaga em nenhum deles", desabafa, ao explicar que Piter precisava, urgentemente, de hemodiálise (filtragem dos sangue através de máquina) já que os rins deixaram de funcionar.
Embora a alegação para a demora tenha sido a interdição de oito dos dez leitos no Hospital Júlio Müller, por uma contaminação ocorrida no dia 24 de outubro, a falta de medicina intensiva é um problema crônico no Estado. Entre outubro de 2002 e março de 2003, 150 pessoas -homens e crianças - morreram por falta de UTI no Estado. Entre eles, 11 bebês recém-nascidos. O relatório foi feito pelo Sindicato dos Médicos do Estado de Mato Grosso (Sindimed/MT) e encaminhado ao Ministério Público do Estado (MPE), à época. Os números mais recentes de óbitos foram solicitados, mas não foram fornecidos à reportagem.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a capital Concentra 128 dos 229 leitos que o SUS oferece no Estado. Trinta deles estão no HPSMC e o restante em hospitais universitários e particulares. (Ver quadro). O número de pacientes que espera na fila por uma vaga de UTI varia a cada hora, mas oscila entre 10 e 40 pacientes num mesmo dia, sendo cerca de 50% encaminhados do interior, segundo a assessoria de imprensa.
De acordo com o mesmo levantamento, cerca de 2,2 mil pacientes foram atendidos, por ano, em UTIs da capital entre 2004 e 2006; mais de 200 pessoas ao mês. Os números mostram ainda que este ano o volume de internamentos em UTI caiu em 30%, já que foram registrados 2.232 mil em 2006 e mil e 1.467 até o mês passado.
A maioria das vítimas é de acidentes de carro ou de disparos de arma de fogo, como é o caso Piter Fernando Vieira, 17, que perdeu os dois rins perfurados por tiros na segunda (29). Apesar da gravidade, ele esperou 36 horas por um leito na UTI no Pronto-Socorro de Várzea Grande e só conseguiu por força de uma liminar judicial.
Piter foi baleado quando voltava de um jogo de futebol, por dois homens numa moto, no Jardim Esmeralda, na cidade vizinha à Capital. "Foi um descaso muito grande. Fazem isso porque não é um parente deles. Pra quem não conhece a lei fica mais difícil ainda. Tentamos em todos os hospitais particulares de Cuiabá e não achamos vaga em nenhum deles", desabafa, ao explicar que Piter precisava, urgentemente, de hemodiálise (filtragem dos sangue através de máquina) já que os rins deixaram de funcionar.
Embora a alegação para a demora tenha sido a interdição de oito dos dez leitos no Hospital Júlio Müller, por uma contaminação ocorrida no dia 24 de outubro, a falta de medicina intensiva é um problema crônico no Estado. Entre outubro de 2002 e março de 2003, 150 pessoas -homens e crianças - morreram por falta de UTI no Estado. Entre eles, 11 bebês recém-nascidos. O relatório foi feito pelo Sindicato dos Médicos do Estado de Mato Grosso (Sindimed/MT) e encaminhado ao Ministério Público do Estado (MPE), à época. Os números mais recentes de óbitos foram solicitados, mas não foram fornecidos à reportagem.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a capital Concentra 128 dos 229 leitos que o SUS oferece no Estado. Trinta deles estão no HPSMC e o restante em hospitais universitários e particulares. (Ver quadro). O número de pacientes que espera na fila por uma vaga de UTI varia a cada hora, mas oscila entre 10 e 40 pacientes num mesmo dia, sendo cerca de 50% encaminhados do interior, segundo a assessoria de imprensa.
De acordo com o mesmo levantamento, cerca de 2,2 mil pacientes foram atendidos, por ano, em UTIs da capital entre 2004 e 2006; mais de 200 pessoas ao mês. Os números mostram ainda que este ano o volume de internamentos em UTI caiu em 30%, já que foram registrados 2.232 mil em 2006 e mil e 1.467 até o mês passado.
Pirâmide invertida
O paciente que sofrer um trauma na cabeça e precisar passar por cirurgia vai contar muito mais com a sorte do que com a estrutura disponível na rede, já que somente o pronto-socorro conta com neurocirurgião para esse tipo de procedimento. A transferência de um paciente do interior para Cuiabá, com esse quadro, por exemplo, tem seu risco de morte potencializado . "O tempo que ele fica fora da UTI reduz a chance de sobrevivência. A demora pode provocar sequelas irreversíveis", avisa o chefe da UTI adulto do Pronto-Socorro.
Tão ou mais grave que a escassez de serviço de medicina intensiva é a falta de leitos de retaguarda para manter o paciente quando ele sai do estado grave. "Chega-se ao cúmulo de manter o paciente na UTI por falta de enfermaria", diz o médico. Ele atribui a superlotação a problemas na política de promoção à saúde, onde as pessoas deveriam receber atendimento eficiente para evitar ao máximo a internação e ao descumprimento, por parte dos particulares, do pacto com o Estado. "Temos vários hospitais que têm contrato com a SES (Secretaria de Estado de Saúde) para internar pacientes clínicos, mas a pactualização não é cumprida", denuncia. Ele diz que a falta de estrutura, incluindo médicos com formação específica em determinadas áreas é um dos motivos da omissão na prestação de serviço por parte da rede particular.
Diante da deficiência na Capital e de forma mais acentuada no interior de MT, Saldanha vê dificuldades para a instalação das 30 novas UTIs como anunciou o secretário Agostinho Moro, esta semana, para melhorar o atendimento aos usuários do SUS. O médico lembra que o Estado dispõe hoje de no máximo 50 profissionais titulados pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), já que até mesmo para credenciamento junto ao SUS é obrigatório que cada 10 leitos tenha um médico com esse grau de formação.
Num hospital bem estruturado, o paciente de UTI pode ficar ligado a até dez dispositivos entre tubos, eletrodos, catéteres, sondas e agulhas que acompanham o funcionamento do organismo durante 24 horas por dia, além de uma equipe multiprofissional, que inclui além do intensivista, um médico visitador.
Sem essa estrutura, a qualidade do atendimento cai e põe em xeque a vocação da UTI que é salvar vidas, como destaca a própria Amib. "Têm UTIs no interior, mas os pacientes vêm pra Cuiabá por falta de profissionais", afirma. A baixa remuneração, na Capital, e o comprometimento da qualidade de vida nos municípios, onde se paga melhor os médicos, "espantam" profissionais de outros estados. A partir deste mês, os recursos da saúde destinados para cada mato-grossense passam de R$ 88 para R$ 99, por ano, com a elevação de 12% no teto, que até setembro era R$ 252,3 milhões. O valor representa pouco mais de R$ 7 por mês de cada morador.
Outro lado - O secretário Guilherme Maluf disse, quarta-feira (31) que as 14 unidades do Programa de Saúde da Família (PSFs) serão ampliadas de 14 para 30 nos próximos meses e chegar a 60, no total, até o final de 2008. Segundo ele, o município não terá dificuldades para contratar profissionais, o que será feito por concurso ou remanejamento no próprio quadro.
Esta semana, Maluf e Moro iniciaram uma série de reuniões para discutir os gargalos da saúde na capital. Por mês, o Estado repassa R$ 1,3 milhões ao Pronto-Socorro, compra serviços da rede particular. Na quarta (31), Agostinho Moro disse que pretende fortalecer a rede com credenciamento de exames e cirurgias nas áreas de ortopedia, neurologia e cardiologia, considerada as mais críticas.
Tão ou mais grave que a escassez de serviço de medicina intensiva é a falta de leitos de retaguarda para manter o paciente quando ele sai do estado grave. "Chega-se ao cúmulo de manter o paciente na UTI por falta de enfermaria", diz o médico. Ele atribui a superlotação a problemas na política de promoção à saúde, onde as pessoas deveriam receber atendimento eficiente para evitar ao máximo a internação e ao descumprimento, por parte dos particulares, do pacto com o Estado. "Temos vários hospitais que têm contrato com a SES (Secretaria de Estado de Saúde) para internar pacientes clínicos, mas a pactualização não é cumprida", denuncia. Ele diz que a falta de estrutura, incluindo médicos com formação específica em determinadas áreas é um dos motivos da omissão na prestação de serviço por parte da rede particular.
Diante da deficiência na Capital e de forma mais acentuada no interior de MT, Saldanha vê dificuldades para a instalação das 30 novas UTIs como anunciou o secretário Agostinho Moro, esta semana, para melhorar o atendimento aos usuários do SUS. O médico lembra que o Estado dispõe hoje de no máximo 50 profissionais titulados pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), já que até mesmo para credenciamento junto ao SUS é obrigatório que cada 10 leitos tenha um médico com esse grau de formação.
Num hospital bem estruturado, o paciente de UTI pode ficar ligado a até dez dispositivos entre tubos, eletrodos, catéteres, sondas e agulhas que acompanham o funcionamento do organismo durante 24 horas por dia, além de uma equipe multiprofissional, que inclui além do intensivista, um médico visitador.
Sem essa estrutura, a qualidade do atendimento cai e põe em xeque a vocação da UTI que é salvar vidas, como destaca a própria Amib. "Têm UTIs no interior, mas os pacientes vêm pra Cuiabá por falta de profissionais", afirma. A baixa remuneração, na Capital, e o comprometimento da qualidade de vida nos municípios, onde se paga melhor os médicos, "espantam" profissionais de outros estados. A partir deste mês, os recursos da saúde destinados para cada mato-grossense passam de R$ 88 para R$ 99, por ano, com a elevação de 12% no teto, que até setembro era R$ 252,3 milhões. O valor representa pouco mais de R$ 7 por mês de cada morador.
Outro lado - O secretário Guilherme Maluf disse, quarta-feira (31) que as 14 unidades do Programa de Saúde da Família (PSFs) serão ampliadas de 14 para 30 nos próximos meses e chegar a 60, no total, até o final de 2008. Segundo ele, o município não terá dificuldades para contratar profissionais, o que será feito por concurso ou remanejamento no próprio quadro.
Esta semana, Maluf e Moro iniciaram uma série de reuniões para discutir os gargalos da saúde na capital. Por mês, o Estado repassa R$ 1,3 milhões ao Pronto-Socorro, compra serviços da rede particular. Na quarta (31), Agostinho Moro disse que pretende fortalecer a rede com credenciamento de exames e cirurgias nas áreas de ortopedia, neurologia e cardiologia, considerada as mais críticas.
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fonte: Gazeta Digital
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