quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Somos todos filhos de Deus?

Durante a semana, tive longos diálogos virtuais com um colega de turma do curso de teologia. Uma pessoa espetacular, honesta e convicta de suas crenças não-cristãs.

Em sua argumentação, ele estava incomodado com afirmações de que todos os homens seriam criaturas de Deus, mas nem todos seriam Seus filhos. Em sua perspicácia, dizia que Jesus ensinara a humanidade a orar dizendo: “Pai nosso, que estás nos céus”. Meu colega crê que, desta forma, Jesus estaria se colocando como Filho do Pai Eterno e a todos nós como seus irmãos.

Embora esta compreensão seja ecumenicamente aceita e politicamente correta, o texto bíblico a refuta. Vejamos: Se numa eventualidade um pai de três filhos estiver cuidando dos seus próprios e de outros 10 amiguinhos deles, é possível que alguns de sua prole cometam algum erro e o pai fale com seus próprios filhos, na presença dos amiguinhos: “meus filhinhos, papai ficou muito triste com o que vocês fizeram”. É claro que isso não faria de nossa personagem imaginária o genitor das 13 crianças, concordam? Analogamente, é possível que Jesus estivesse no Sermão da Montanha falando a filhos sinceros, mas também a meros curiosos, fariseus maldosos que procuravam em que incriminá-lo, ou pessoas que desejavam alguma vantagem como uma refeição gratuita ou uma cura física, tão comum também em nossas igrejas cristãs contemporâneas.

Além dos filhos de Deus, a Palavra categoriza um grupo de pessoas como filhos (ou homens) de Belial (Deuteronômio 13:13; Juízes 19:22 e 20:13; 1ª. Samuel 1:16, 2:12 e 10:27; 2ª. Samuel 16:7, 20:1 e 26:3; 1ª Reis 21:10 e 13; 2ª. Crônicas 13:7). Ora, Belial (do original grego Βελίαλ) era uma entidade conhecida como o Senhor das Florestas. Esta expressão também é usada na Bíblia para se referir ao Diabo. No hebraico o vocábulo belial ( בְּלִיַּ֫עַל, ) também significa indigno, indignidade, sendo o termo utilizado para designar o Satanás.

Ao determinar o fundamento bíblico de que exista a possibilidade de haver duas situações filiais distintas ao homem, surge a questão: o que faz de alguém um filho de Deus ou de Belial?

O mais conhecido texto bíblico de todos os tempos (João 3:16) define Jesus Cristo como o Filho unigênito, isto é, único gerado “legitimamente” de Deus. Em outros textos, Jesus é igualmente designado (até pelo próprio Belial) como Filho de Deus (Marcos 3:11). Fica claro, então o motivo porque a Palavra ensina que “todos pecaram e separados estão da Glória de Deus” (Romanos 3:23). A dura conclusão é que, em princípio, nenhum de nós sejamos filhos de Deus, em nosso estado original.

Apesar da dureza desta afirmação, existe uma luz no fim do túnel. A esperança do homem é o tema principal do cristianismo. Apesar de nascidos filhos de Belial, gerados no pecado de Adão (Romanos 5:14), Deus deseja transformar a todos os que o receberem, a saber, os que crerem no Nome de Jesus (João 1:12), em Seus filhos por adoção (Romanos 8). Significa dizer que está ao nosso alcance o ser adotados como filhos por Deus !

Os filhos de Deus, biblicamente falando, são então (além de Cristo – o legítimo, unigênito), aqueles que por Ele forem adotados.

E as evidências da nova filiação são visíveis por meio de crenças e atitudes. A Palavra diz que os filhos adotivos de Deus crêem em Cristo (Gálatas 6:26); praticam a justiça e amam seus irmãos (Gálatas 3:26); amam a Deus e praticam Seus mandamentos (1ª. João 5:2); são promotores da paz (Mateus 5:9); são guiados pelo Espírito de Deus (Romanos 8:14) e são irrepreensíveis e sinceros (Filipenses 2:15).

Belial não deseja perder seus filhos. E a forma mais fácil de mantê-los é fazer que todos os filhos de Belial acreditem ser filhos de Deus. Para isso, ele nem faz questão que tenhamos consciência de sua existência.

Jesus quer nos ter como irmãos. Deus quer nos ter como filhos. Inclusive já preparou o lugar onde moraremos com Ele na eternidade (João 14:12). Se você ainda tem dúvidas sobre paternidade, diga isso a Deus em oração. Peça que ele revele a você seu DNA espiritual, e caso você descubra que seu processo de adoção ainda não tenha iniciado, exponha seu desejo de ser adotado ao Pai, e entre de vez na família de Deus.


Renato Gama - médico e acadêmico de teologia