quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Conferência sobre Saúde Mental Indígena debate alcoolismo e consumo de drogas

Foi iniciada nesta segunda-feira (22/10), a I Conferência Internacional de Saúde Mental Indígena, promovida pela Funasa, em Brasília. O assessor do Departamento de Saúde Indígena (Desai) da Funasa, Antônio Costa, que representou o presidente da Funasa, Danilo Forte, destacou o apoio que o presidente Lula dá às minorias, como por exemplo, indígenas e quilombolas. Ele afirmou que “a Funasa já obteve muitos avanços na saúde indígena e o dever da instituição é cumprir o compromisso público de zelar pelos povos indígenas”.

A abertura da Conferência, que tem como relator o médico psiquiatra Paulo Macedo, contou com a presença do responsável pela Coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Francisco Cordeiro. “O encontro inaugura uma nova fase no processo que vem sendo construído para trabalhar junto aos indígenas no combate às drogas e saúde mental num contexto geral. As experiências apresentadas aqui vão colaborar com o nosso trabalho.” disse. Hermésio Serrano, do Projeto Vigisus II (uma parceria da Funasa com o Banco Mundial) lembrou que o governo federal prioriza os povos indígenas. “A Funasa elabora planos para atender as necessidades desses povos. O Vigisus II teve todo o apoio do governo federal para desenvolver ações. Eventos como esse nos dão base de conhecimento para desenvolver as ações da melhor forma possível.”, frisou. O responsável pela área de saúde mental do Desai, Carlos Coloma, lembrou que, durante o evento, serão buscadas soluções para as questões que interferem na saúde mental dos povos indígenas.


Por sua vez, a coordenadora de Saúde da Fundação Nacional do Índio (Funai), Ana Maria Costa, afirmou que a Funasa e a Funai estão ligadas no envolvimento com as questões indígenas. “A Funasa cuida da saúde e nós somos responsáveis pelo zelo jurídico dos povos que precederam a formação da sociedade brasileira. Daí a importância do trabalho conjunto das instituições”. A representante da Associação Brasileira de Psiquiatria, Ilda Morana, citou que os programas desenvolvidos pela associação só terão sentido se puderem ser utilizados pela Funasa.


“Trabalhos científicos devem ser desenvolvidos para contribuir com as instituições.”, afirmou.


Também estiveram presentes a representante do Conselho Nacional Antidrogas, Débora Domicelli de Oliveira e o coordenador-geral de Cooperação Técnica Recebida Bilateral do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE) Paulo Miranda.


O início da apresentação dos trabalhos ficou a cargo do professor australiano Dennis Gray e do aborígene Edward Wilkes. Eles fizeram exposição sobre o abuso do consumo de álcool entre os indígenas no país. A tentativa de recuperação da cultura é um dos desafios apontados por Wilkes na superação dos problemas dos indígenas. Ele também citou que, atualmente, os aborígenes dizem ao governo quais são as suas necessidades, não aceitando, simplesmente, as imposições do Estado. Segundo ele, "as determinações governamentais podem ter causado prejuízos à identidade dos nativos".


De acordo com Gray, os indígenas australianos já chegaram a ter 17 anos a menos de expectativa de vida em relação aos não indígenas e morrem duas vezes mais que os não indígenas por motivos ligados ao uso abusivo de álcool. A maioria dos casos de mortes acontece com pessoas jovens. O histórico apresentado informou que os indígenas usavam álcool para fugir das pressões sociais, e depois, o consumo se tornou abusivo. Os casos de suicídios, outro problema ligado ao álcool, também são preocupantes. A ocorrência entre os aborígenes é maior do que entre os não indígenas.


Sherry Saggger e Annalee Stearn, pesquisadoras australianas, apresentaram experiências de intervenção no combate ao uso abusivo de álcool na Austrália. A ameaça à estrutura das comunidades indígenas pelo uso de álcool é uma preocupação constante. Entre as estratégias citadas pelas pesquisadoras para diminuir ou conter o uso da droga, está o aumento do preço do produto, além de programas sociais e busca por vagas no mercado de trabalho, pois, os problemas sociais e coletivos atingem os indivíduos.


Na tentativa de resgatar a integração dos jovens aborígenes, foi desenvolvido o projeto Jaru Pirrjirdi. O trabalho reintroduz os jovens na cultura que deixaram para trás. Visitas a locais com grande significado para os aborígenes são feitas para reaproximar os jovens de sua cultura. Uma parte do programa oferece entretenimento para crianças e atividades como futebol e dança. Até mesmo supletivos noturnos foram criados para os jovens com problemas educacionais.


Duas experiências desenvolvidas pela Funasa em aldeias foram apresentadas durante o primeiro dia de Conferência. O trabalho feito no Rio Grande do Sul, com os Mbya Guarani, detectou que o uso de álcool pelos indígenas pode ser resultado da redução territorial da reserva. Outro fator importante é a ausência do posicionamento dos líderes sobre beber ou não beber. A existência de festas, jogos e eventos facilita o acesso às bebidas. Então, o objetivo é evitar a realização desse tipo de eventos para não criar oportunidades para o abuso do álcool. Sobre a experiência com os Kaigáng, do Paraná, foi explicado que a proximidade com as áreas urbanas causou mudanças no perfil epidemiológico dos indígenas. Casos de hipertensão, diabetes, tuberculose e o uso do álcool são alguns dos problemas causados pela aproximação com os não indígenas. Entre os indígenas dessa etnia, o número de mortes causadas por fatores ligados ao álcool é significativo. Para evitar, por exemplo, acidentes de trânsito, estão sendo realizadas oficinas de prevenção, revitalização da cultura, busca pelo maior envolvimento da comunidade e atividades educativas.


O psiquiatra Daniel Cruz Cordeiro expôs os padrões de consumo de álcool na sociedade brasileira. A amostra que deu origem à pesquisa foi feita com 3007 pessoas. O resultado mostrou que 86% dos entrevistados aprovam as campanhas que alertam sobre o risco do consumo de álcool, 95% acha que a fiscalização sobre a venda para menores deve aumentar, 68% é favor da proibição da propaganda na TV e 93% apóia a veiculação de mensagens de alerta nos rótulos das bebidas. O evento continua até a próxima quinta-feira.


Fonte: Funasa