domingo, 21 de outubro de 2007

Ministério Público e Delegacia Regional do Trabalho identificam condições de trabalho degradantes em negócios sucroalcooleiros do Médio-Norte


RODRIGO VARGAS

Da Reportagem


Quartos superlotados, escuros e em péssimas condições de higiene. Banheiros sujos, cozinhas improvisadas a céu aberto. Na lavoura, os equipamentos são velhos, inadequados ou custeados pelo próprio trabalhador. Ao final de cada jornada, ninguém sabe ao certo quanto irá receber.


Esta realidade foi encontrada por uma comitiva do Ministério Público do Trabalho e da Delegacia Regional do Trabalho nas lavouras e nos alojamentos de três grandes usinas de álcool – além de uma associação que produz e fornece cana de açúcar – da região oeste do Estado.


O Diário teve acesso ao relatório da inspeção, que foi realizada entre os dias 8 e 10 deste mês. O documento, assinado pela procuradora Gabriela Tavares Maciel, enumera dezenas de situações irregulares, degradantes e potencialmente nocivas à saúde dos trabalhadores.


Na Barralcool, localizada em Barra do Bugres, os maiores problemas foram identificados em quatro alojamentos existentes na área urbana da cidade. Em todos eles, segundo a procuradora, chamaram a atenção a sujeira e o improviso. “Sequer havia separação por quartos e algumas camas estavam no terraço da casa, completamente expostas”, escreveu.


Para ficar nestas condições, cada trabalhador desembolsa entre R$ 30 e R$ 40 mensais. Também foram identificados problemas nos alojamentos. “Trabalhadores reclamaram da qualidade da comida, sendo que alguns afirmaram encontrar moscas, larvas e até rã, na marmita”.


Em Nova Olímpia e Campo Novo do Parecis, o grupo visitou respectivamente as usinas Itamarati e Cooprodia. Na primeira, o relatório destacou a excessiva jornada imposta aos operadores da colheita mecanizada.


“Na verdade são mais de 14 horas de jornada, já que ficam no ponto esperando o ônibus para levar à frente de trabalho desde as cinco da manhã e só chegam ao alojamento às dezenove horas”, diz o relatório, que também critica as condições em que a tarefa é desempenhada. “A cabine (...) é aberta, deixando-os vulneráveis a uma imensa poeira”.


Em ambas, o método de remuneração a cada jornada é considerado desvantajoso para o trabalhador. “O preço da cana só é dito após o trabalho já executado, o que impede o trabalhador de ter um controle sobre sua produção”.


A pior situação, no entanto foi encontrada nas lavouras coordenadas pela Associação dos Fornecedores de Cana do Vale do Rio Paraguai (Assovale), cuja produção é vendida à usina Itamarati. Em uma das propriedades visitadas, trabalhadores tinham de pagar pelos equipamentos de segurança individual. “Não há fornecimento de qualquer alimentação.


Não há local para fazer refeição. Come-se no meio das canas. Os trabalhadores têm que comprar até mesmo o ‘podão’ ou facão que cortam a cana, a garrafa térmica que bebem a água, as luvas e os chapéus”. Pouco antes da chegada da fiscalização, apontou a procuradora, um dos responsáveis pela fazenda distribuiu luvas novas aos trabalhadores. “Era possível perceber, facilmente, que eram novíssimas”.


fonte: Diário de Cuiabá