quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Mundo americano "achincalha" Maggi e ainda o vê como destruidor de floresta

A soja continua sendo o vilão do desflorestamento da Amazônia brasileira e o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, o responsável pelo avanço das máquinas sobre as árvores, abrindo enormes clareiras para o plantio da cultura - carro-chefe da economia do Estado. Por mais tentativas que se faça, o governador parece ter perdido, de fato, a guerra na mídia internacional. Ovacionado nas grandes publicações econômicas, Maggi está "endemonizado" entre os ambientalistas. A última forma apareceu numa reportagem assinada pelo jornalista Pat Joseph, que relata para a "Virginia Quaterly Review" sua visita à região.

Fundada em 1925 na Universidade da Virginia para estimular bons debates e boa literatura, a revista é uma das mais conceituadas publicações do país. Pat achou curiosos personagens, defendendo o cultivo ao mesmo tempo em que reconhecem a necessidade de preservação da floresta. E quando chegou a hora de apresentar o governador, pegou pesado: "O governador Maggi personifica a depravação ecológica muito mais pelo que diz à imprensa internacional do que pelo seu aspecto suíno" - ele escreveu.

"O avião toca a pista de decolagem cercada por plantações de soja. Kory e eu éramos os únicos passageiros no desembarque. Não havia nenhum terminal, apenas um hangar deserto que abriga dois aviões pequenos. Nele, alguns pássaros fazem a guarda do lugar, com seus cantos ecoando pela "caverna de metal". Kory Melby é um consutor de soja de Minnesota, que agora reside em Goiânia, na região do Centro-Oeste de Brasil. Usando o telefone celular e, apontando um grande armazém de grãos que se levanta a distância, ele diz: "Isto é Lucas", referindo-se a cidade de Lucas do Rio Verde.

Entre os clientes de Kory incluem fazendeiros, gerentes de fundo, repórteres, enfim, qualquer um que procure um guia para agricultura da região. "Eu sou um fanático por Mato Grosso. Eu amo o espírito pioneiro, os espaços abertos, e a atitude positiva entre os fazendeiros dinâmicos na área. Lucas do Rio Verde é o jardim de Eden em minha opinião. Meus amigos são uma história pioneira do sucesso" - diz o guia.

A reportagem da revista sustenta que os espaços amplamente abertos são, de fato, uma característica nova da paisagem. O nome Mato Grosso traduz como "a floresta densa," mas em anos recentes, o estado ficou sujeito aos maiores desmatamentos. "Nos lugares das pastagens para gado, começou a crescer a cultura da soja" - diz a publicação, que lembra o fato de Mato Grosso ter sido visitado pelo ex-presidente americano Roosevelt, em 1914, andando pelas florestas junto com Cândido Rondon.

"Foi aqui que o enigmático coronel Fawcett desapareceu em 1925, durante sua busca para a cidade perdida de Z" - situa. "Na década de 30, Mato Grosso forneceu ao antropólogo francês Claude Lévi-Strauss o material necessário para o que se transformaria seu obra iluminada, entitulada "Tristes Trópicos".

O lugar soa ainda como a parte desconhecida da maioria dos brasileiros, cuja população está aglomerada nas áreas litorais do Sudeste. Mais de 20 milhões de pessoas vivem na cidade de São Paulo, em comparação a menos de 3 milhões em todo o Mato Grosso, um estado maior do que Texas.

Pat lembra que quando tentou um visto de turista para visitar a região Norte e Noroeste de Mato Grosso, uma atendente do consulado chegou a questioná-lo: "Que tipo de trabalho você esteja fazendo lá?". A atendente, de cara, o reconheceu como sendo um não-turista. Deslizando os formulários para serem assinados, ela sorriu: "Ninguém vai lá para o turismo" - relata. Pat conta na reportagem acessada por milhões de acadêmicos americanos que estaria "subindo" para Mato Grosso para ver o que imaginava ser a "linha dianteira no marco da civilização".

Segundo ele diz, foi atrás de um lugar onde o épico tema do homem contra a natureza finalmente havia assumido uma certa clareza: de um lado, a manocultura industrializada; de outro, o respeito a biodiversidade contida na floresta amazônica. "Agora aqui eu estava, 13 graus do Sul da linha do Equador, na franja do sul da Amazônia, olhando através de um mar de soja a cidade de Lucas do Rio Verde". A soja, ele diz, "moeu a zero o Jardim do Éden".

fonte: 24HorasNews

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